quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Carpinejar lança livro com textos publicados no Twitter


Tangerina é uma fruta didática. Não há como errar a divisão do gomo. 12:58 PM jun 21st from web

O livro do gaúcho Fabrício Carpinejar assim começa. Mas como a barra de rolagem ficou esquecida lá, no computador que “poeta” com vida própria virtual, o leitor precisa agir sobre as páginas dos livros e passá-las uma a uma para chegar ao início, que na obra impressa ficou no final, na última página. Que como não deslizam, as páginas do livro, nos deixam encontrar, fixadas lá, na pág. 83, as máximas de cotidiano e vida que no twitter.com/carpinejar já viraram arquivos. Velhos. O livro “começa” em junho e termina depois de setembro. Nunca mais saberemos quando, a não ser que encontremos os arquivos do Twitter “vivos”.

A filosofia começa onde a poesia termina. O filósofo herda o quarto bagunçado do poeta. 4:44 PM Aug 12th from web

Carpinejar foi premiado por inventar com arte e muito sossego poesia; por desafiar a ordem dela, os versos dela, por até disfarçá-la, cuidadosamente, em coisas ordinárias do dia-a-dia. Agora, ele chega com um outro rompante de criatividade e retidão: os aforismos que retornam, de suas mãos, com tanto de novidade, rasuras, cuidado pela vida dele, do leitor e delas, das palavras que quase parece que estamos diante de um jogo. A novidade está em trazer para o Livro o Twitter, por dar ao Twitter algo “novo”: pensamentos ao invés de vagas fofocas ou cápsulas de informações, por deixar, Twitter e Livro, cada um com “a sua praia”. E, nisso tudo, por oferecer ao leitor essa espécie de cinco minutos de sabedoria e de prazer. Não, de tweets.

No amor, o dente deseja roçar como o lábio, o lábio morder como o dente. 4:58 PM Aug 10th from mobile web

A arte de escrever em máximas, em condesados pensamentos, é antiga. Muitos filósofos e escritores se utilizaram desse gênero, alguns dos quais o próprio autor se diz leitor: Pascal, Karl Kraus, Goethe, Millôr, Clarice, Veríssimo, Quintana e outros listados na apresentação do livro. Mas os de Carpinejar tem algo particular: não extrapola os 140 caracteres permitidos pelo Twitter.


O escritor transforma a falta em vaidade. Ele vai se vangloriar inclusive do bloqueio criativo e escrever que não está conseguindo escrever. 12:22 AM Aug 5th from web


Como que marcando com compasso e não relógio esse tempo de poesia que já se extingue no ontem, o autor subverte os suportes, o tempo, a prática, a matéria e a literatura. O livro termina pelo começo e começa pelo final, que não sabemos se é presente ou futuro ou fantasia. A primeira página começa, ou termina, ou quem sabe prenuncie:

Quem anota para não esquecer esquece que o livro tem memória fraca. 40 minutes ago from web

Esses “40 min ago” é o tempo de eu dizer que li, e é o que o livro, para não esquecer, vai lembrar de dizer daqui a cem anos, dando ao leitor, “forever”, essa sensação de pertencer ao dia. Mas porque imprimir a palavra? Quem sabe para provar que o “pensador-poeta” virtual de fato se experimentou, a si mesmo, e também, sabiamente, nos testa no desvendar dos dias do lado de cá. No livro, sem login, pode-se transpor os limites das palavras e recriá-las como conselheiras de vida. Pois, sim, nesse livro não temos bytes nem barra de rolamento, contudo qualquer coisa de futuro. No livro também não se faz necessário conectar por cabo, smartphone ou WiFi.É livro com papel e tinta preta. Mas as palavras que registram o tempo, em inglês, elas, sim, são do Twitter. E o λόγος , afinal, que nos faz homens, registra sentidos no Twitter e no livrinho. E, assim, poesia, pensamentos, aforismos, tweets. Acréscimos e novas formas de fazer mais do mesmo.

O Twitter é um torpedo que a gente manda a si mesmo. E vai respondendo. 10:59 PM Jun 22nd from web


Publicado no Jornal A Tarde - caderno 2+ 11/11/2009

4 comentários:

  1. Apesar de não curtir Carpinejar, confesso que o cara tem boas ideias. Já tinha lido sobre isso num jornal. Bom, acho que 140 caracteres não é pra qualquer um mesmo... Grande abraço.

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  2. Hey, boy. Eu acho que ele tem bom faro também, se antecipou a Neil Gaiman que está escrevendo com os seguidores, no Twitter, um romance. :-) Eu não gostei daquilo, do Twitter, mas serve para controlar os mais estirados nos verbos ;-)
    Thank's pela visitinha, ainda estou escondida aqui.

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  3. Gosto do Carpinejar, mas detesto o Twitter. Comprar o livro seria uma contradição ou um atestado?

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  4. Puxa, vai ser sem debate a minha resposta, pelo tempo escasso, mas, no olho do furacão: um atestado.

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