O jovem escritor angolano Ondjaki é um dos mais premiados de sua geração. A sua obra é mesclada: prosa e poesia seguem equilibrando-se na pena do escritor. Para além disso, vez por outra ele arrisca de fotógrafo, ator, cineasta.
Gosto de saber que entre todas as artes e linguagens, há a curiosidade exagerada pela palavra, seja a que dá forma às suas narrativas, seja a que suspende poesia do “xão”.
Ondjaki trocou cartas com o poeta Manoel de Barros. Entre eles, surpresas e palavras que caminham de uma pátria a outra, de uma alma a outra.
Em “Há prendisajens com o xão” a poesia das palavras tanto é oferecida em poemas como em textos curtos, narrativas condensadas, como a série das “estórias”. Nesses textos, dedicados a personagens da memória do escritor, há a interação da tradição oral com o lugar da palavra que tenta dar ao leitor, de certa forma, o lugar central, ainda que organizado pelas metáforas que revelam-escondem paradoxos, como o suspeito verso “um só olhar pode ser uma voz não dita”, do poema “Que sabes tu do Eco do silêncio?” dedicado a também poeta Paula Tavares.
Essa experiência tem estado presente na obra do escritor, que tem trazido ironias e desconstruções em grande parte de sua escrita, reclamando e refletindo o lugar político pós-colonial de sujeitos angolanos.
Ligando as partes do livro - “poemas” e “estórias”- uma invisível ponte erguida sobre o sentido das palavras. É nisso a maior beleza de muitos dos poemas, como “Penúltima vivência”: quero só/o silêncio da vela./o afogar-me/ na temperatura/ da cera./quero só/ o silêncio de volta:/infinituar-me/em poros que hajam/num chão de ser cera.
A linguagem também obedece seus princípios ali, nos poemas e nas “estórias”; as minúsculas e a pontuação experimental funcionam bem na dimensão visual e no ritmo das frases, dos versos.
Há também um compêndio colecionável: Na “Aterminação”, os convidados especiais aparecem brilhantemente: “Bichos convidados de A a Z, onde a ironia e as combinações tanto trazem o jogo especial da poesia, quanto a ludicidade também verificada em Manoel de Barros, ainda que com outros segredos. Uma das entradas que gosto é “grilo”: pastor de estrelas. embalador de noites. de tanto grilar seus sons, conhece cada curva de um silêncio. bichinho quase inencontrável de dia.
Tem também “Outros convidados ou descoisas de Z a A”, onde encontrei “quintal”: sítio onde cabe um grilo, um universo, um chão, uma algibeira de silêncios, uma estrela grilada ou todo um infinito inacabado.
O livro é assim: palavras, paisagem, homem, sentimento e coisas parecem ser feitas da mesma matéria: a poesia da própria palavra. Uma leitura que traz Manoel de Barros e as “descoisas” de outras paragens, talvez mais de Angola, mas também dos mares todos, e nem me surpreende que o meu inconsciente me traga o Saramago quando leio: “madeira”: sem ela não se fazem nascer jangadas.
domingo, 13 de novembro de 2011
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