Ayaan Hirsi Ali transformou-se num símbolo da luta feminina contra a opressão nos países islâmicos. Em “Nômade”, ela volta a colocar a sua experiência num relato pessoal, uma espécie de romance-diário, no qual continua a contar a sua trajetória.
Agora, a autora tece a sua narrativa ao redor do eixo familiar. É contando sobre o seu pai, irmãs, primos, avós, mãe, família que ela classifica no livro como “problemática”, que ela aborda o Islamismo, um meio de vida mais do que uma crença.
Falando também de sexo, dinheiro e violência, Ayaan vai abordando a diferença entre o mundo muçulmano e o ocidental, destacando a oposição entre o sistema democrático e o teocrático, alvo de sua crítica e rancor.
“A burca deveria ser o ponto de partida para um debate mais amplo: a maneira de viver das pessoas em geral”. Afirma no livro. Ayaan Hirsi nasceu na Somália em 1969 e recebeu uma educação islâmica ortodoxa e radical, tendo sofrido mutilação vaginal, uma experiência traumática e dolorosa, conforme relatou em seu primeiro livro. Com apenas 22 anos, ela conseguiu fugir para a Holanda, escapando de um casamento arranjado por seu pai. Foi nesse país - que ela afirma adorar e diz ter sido o lugar em que mais foi feliz, que ela estudou, formou-se em Ciências Políticas e tornou-se membro do parlamento holandês.
A sua luta contra a opressão e a submissão feminina, assim como as críticas ferozes ao Islã, a levou a deputada em 2003 naquele país, antes de ser acusada de perder a sua residência holandesa e ver-se obrigada a ir viver nos Estados Unidos. Mas, antes disso, foi ameaçada de morte pelos fundamentalistas islâmicos e passou a ser acompanhada de guarda-costas depois de ter seu amigo, que dirigiu um filme sobre a sua vida, assassinado.
Ela costuma comparar os sistemas para mostrar os abusos e o fanatismo dos fundamentalistas islâmicos: “O nível de separação entre Igreja e estado é totalmente diferente. Para que isso também aconteça no Islã, depende apenas dos muçulmanos”. Em sua opinião, os grupos radicais do norte da África, ao colocarem a prática radical da religião acima de tudo, violam os direitos humanos.
As suas críticas, expressas no livro, alcançam também a benevolência dos países ocidentais com os imigrantes. Nesse sentido, destaca que é muito importante que a cultura de acolhida exija que as pessoas, além de aprenderem o idioma, aceitem os sistemas de valores. Em sua opinião, os países europeus que são muito “compreensivos” com as diferenças culturais e religiosas, acabam incentivando hábitos que prejudicam a mulher, que pode, por exemplo, morar na França ou na Inglaterra e continuar a usar a burca e a ser controlada por seus pais e maridos.
Com relação à violência de gênero, Ayaan destaca que não é só no Islã, mas em todos os âmbitos e sistemas. Ela destaca as diferenças entre europeus e orientais e, de forma aberta, elege como mais saudável a liberdade do ocidente.
O livro não traz nada de especial em se tratando de estilo; a linguagem é direta, quase jornalística, e a autora acaba sendo muito repetitiva em relação a alguns fatos e reflexões. Mas não se pode negar que é um relato corajoso e lúcido. A autora, que se denomina feminista, leva a luta feminina para além das relações homem e mulher e mostra como um sistema religioso misógino pode ser cruel.
Suas análise dos símbolos de sua cultura são instigantes porque ultrapassam oposições mínimas e se tornam complexas no contexto histórico: “A burca simboliza a tradição, é certo, mas seu significado é o do controle da sexualidade. Indica que a mulher que fique em casa, e revela o homem como incapaz de controlar seus instintos sexuais. Isso é o que inculcam os islâmicos radicais às pessoas.”
Hirsi Ali vive hoje nos Estados Unidos e criou uma Fundação em seu nome, através da qual defende os direitos das mulheres no ocidente diante do islamismo radical. Milita em várias frentes e afirma que “o multiculturalismo como se entende hoje é um fracasso”.
Nômade/ Cia das Letras/388p.
domingo, 13 de novembro de 2011
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